Vê-se, ano após ano, o mesmo cenário a repetir-se: a indústria do fogo continua a devastar o país e a engordar as contas de alguns. Enquanto uns prosperam com contratos milionários, outros perdem tudo: casas, bens, memórias, e ficam entregues ao vazio. É uma injustiça gritante, alimentada por interesses que poucos ousam denunciar.
O termo “indústria do fogo” descreve um conjunto de negócios e contratos que giram em torno dos incêndios, desde o aluguer de meios aéreos ao fornecimento de equipamentos. Há quem lucre com cada hectare ardido, com cada hora extra de combate, com cada reacendimento que prolonga operações.
Hernâni Carvalho, jornalista e comentador, tem denunciado de forma clara esta realidade: fala de meios aéreos sobrevalorizados, de bombeiros mal pagos e mal equipados, e de negócios que chegam a movimentar biliões. Aponta ainda para casos em que Portugal compra material mais caro no estrangeiro, quando poderia adquiri-lo cá, mais barato.
Recordam-se as suas palavras durante a tragédia de Pedrógão Grande: “Há uma indústria do fogo escondida dos portugueses. É uma vergonha.” E é mesmo. É inadmissível que aqueles que arriscam a vida nas frentes de combate o façam com recursos limitados, enquanto outros enriquecem à sombra das chamas.
Esta realidade não é apenas um problema ambiental, é um problema ético e político. Enquanto não se cortar pela raiz este negócio, continuaremos a ver o mesmo filme: tragédia para uns, lucro para outros.