Margarida Marinho é um dos rostos mais marcantes da ficção nacional, tendo sido protagonista de algumas das novelas mais emblemáticas da televisão portuguesa. Com uma presença intensa e uma entrega inquestionável à arte de representar, a atriz de 62 anos tomou, há quase uma década, a decisão de se afastar das produções de longa duração para seguir um rumo diferente.
O percurso de Margarida Marinho foi pautado pelo talento e pela versatilidade, conquistando o público em novelas de grande impacto. No entanto, após Poderosas (2015-2016), a atriz optou por se retirar do circuito televisivo convencional, abraçando projetos distintos e mais alinhados com a sua visão artística. Entre esses trabalhos, destacam-se Cuba Libre, da RTP1, e Lúcia – A Guardiã do Segredo, da Opto, onde continuou a mostrar a sua mestria enquanto intérprete.
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Numa rara entrevista ao podcast Ar Livre, de Salvador Martinha, a atriz abordou o que a levou a afastar-se dos holofotes: "Não há independência quando dependo de terceiros, há uma gestão diferente da dependência. (...) Comecei a adotar esse tipo de existência, de poder fazer escolhas."
A vontade de preservar um espaço criativo autónomo e de não se submeter a projetos que não a desafiavam artisticamente pesou na decisão de mudar de trajetória.
Porque Margarida Marinho saiu da televisão?
Sair de um ambiente que lhe era familiar trouxe desafios. A atriz reconhece que a estabilidade financeira foi um dos primeiros impactos dessa mudança:
"Temos de sobreviver e, de repente, a conta bancária desce um bocadito e as decisões são mais difíceis."
Ainda assim, Margarida Marinho nunca se arrependeu da sua escolha. Mais do que seguir um caminho convencional, desejava projetos que verdadeiramente a inspirassem. Foi esse desejo de qualidade que a afastou das novelas, ao perceber que a exigência artística estava a dar lugar a formatos que não correspondiam às suas expectativas: "Comecei a ver que a linhagem low cost se estava a desenvolver. E isso tem um preço que, do ponto de vista da qualidade, se ressente imediatamente."
Com uma carreira construída com entrega e seriedade, Margarida Marinho não se limitou a representar. Sempre foi uma observadora atenta do panorama audiovisual, alertando para a necessidade de um maior respeito pela arte e pelos profissionais do setor. "Nós temos de lutar para ter acesso a desafios, mesmo que nos pareçam que não têm a ver com a nossa dinâmica."
A atriz relembra com carinho os projetos em que se entregou de corpo e alma e sublinha a importância de preservar a essência do ofício: "Fui feliz porque fiz aquilo que quis nas novelas. Tive personagens em que me entreguei como se fosse uma longa-metragem."
No entanto, ao ver a crescente banalização dos conteúdos, sentiu que era o momento de se afastar: "Deixei de sentir isso. As pessoas estavam a ficar infelizes, tudo já numa dinâmica muito pouco saudável."
O Legado de Margarida Marinho
Apesar da sua ausência prolongada da televisão, Margarida Marinho continua a ser uma referência incontornável na ficção portuguesa. A sua coragem em procurar novos caminhos reflete a força de uma atriz que nunca se resignou a projetos que não lhe acrescentavam valor.
Afastada dos ecrãs, mas nunca da arte, mantém-se fiel aos seus princípios, provando que a verdadeira grandeza de um intérprete está na sua capacidade de escolher com consciência e paixão. Será que um regresso ao pequeno ecrã poderá estar nos seus planos? Só o tempo dirá.