A ficção turca tem-se destacado não apenas pela qualidade das suas tramas, mas também pelas peculiaridades que refletem a cultura e a política do país. Uma característica que chama a atenção é a ausência de demonstrações de afeto mais explícitas, como beijos, em muitas dessas produções. Essa restrição está diretamente relacionada com as diretrizes governamentais que visam preservar os valores conservadores da sociedade turca.

Estado apoia a ficção

As séries que recebem subsídios do governo são proibidas de exibir cenas que possam ser consideradas eróticas ou contrárias aos valores tradicionais do País. Mesmo as produções independentes, que não contam com apoio estatal, tendem a evitar cenas de afeto explícito para não correrem o risco de receberem sanções, como multas pesadas ou até a perda da licença de transmissão. Isso deve-se, sobretudo, ao controle rígido do governo turco sobre os conteúdos televisivos.

Essa censura também afeta outras áreas da produção audiovisual na Turquia, como filmes e programas de Televisão, onde as leis têm ampliado o seu controle, impactando negativamente a liberdade de expressão e a criação artística. Esses regulamentos são parte de uma estratégia mais ampla do governo para manter uma imagem pública alinhada com os valores conservadores, especialmente sob a liderança de Recep Tayyip Erdoğan.

Turquia é o terceiro maior exportador de novelas do mundo
A Turquia consolidou-se, no mercado televisivo, como a terceira maior exportadora de novelas do mundo. O sucesso das suas histórias passa fronteiras. Por cá, até já teve uma adaptação: ‘A Promessa’.

Curiosamente, essas restrições têm levado as produções turcas a focarem mais no desenvolvimento emocional e na complexidade das personagens, compensando a ausência de carícias físicas com narrativas intensas e envolventes. Esse estilo, aliado à qualidade das produções, continua a atrair uma audiência à escala global, inclusive em países como Portugal, onde as séries turcas têm grande popularidade.

Além disso, a censura na Turquia não se limita apenas a questões de televisão, mas também às redes sociais e à comunicação digital. As leis são peremptórias e ampliam as capacidades do estado em suprimir dissidências e restringir a liberdade de expressão online.

Fontes: Human Rights Watch e WAMC