A TVI estreou no passado sábado Quero o Divórcio!, um formato que substitui o Em Família e que, à primeira vista, parecia seguir a linha de programas de debate social e resolução de conflitos. No entanto, a grande questão que se impõe é: será esta aposta mais um programa de puro entretenimento ou um verdadeiro espaço de reflexão sobre o fim das relações?
Uma Estreia Com Bons Indicadores
Os números da estreia mostram que a TVI acertou na fórmula. Com uma audiência média de 4.7 pontos e 13.4% de share, e um pico de 535.400 telespectadores, Quero o Divórcio! conseguiu liderar na média horária, competindo taco-a-taco com a RTP1. A evolução positiva dos números ao longo da transmissão prova que o público se manteve interessado e até conquistou novos espectadores à medida que o programa avançava.
Casos Reais, Dramas Humanos e a Força da Mediação
O programa tem como figura central a juíza Antonieta Almeida Rocha, que, além da experiência profissional na mediação de divórcios, trouxe também a sua própria vivência pessoal. A sua postura direta e empática promete ser um dos pilares do formato, criando uma relação de proximidade com os telespectadores e os casais que se apresentam no programa.
Os dois primeiros casos abordados foram particularmente bem escolhidos, pois exploraram temas polémicos e universais. O primeiro valeu pelo conselho final, que deu um alento ao cônjuge mais fragilizado, mostrando que o formato pode ter um lado mais humano e inspirador. Já o segundo caso foi mais denso e cativante, abordando questões como a dúvida sobre a paternidade, o ciúme entre amigos de infância e a eterna questão sobre a necessidade – ou não – de revelar experiências passadas num casamento.
Estes temas geraram um debate intenso e mostraram que o programa tem potencial para ser mais do que apenas um espaço de exposição de conflitos conjugais. Existe aqui uma oportunidade para discutir tabus sociais e as dinâmicas das relações modernas, algo que pode ser um grande trunfo para a TVI.

O risco da fórmula repetitiva
Apesar de uma estreia sólida, há um desafio evidente: evitar que Quero o Divórcio! caia na repetição de histórias semelhantes e numa abordagem demasiado sensacionalista. Se a TVI não inovar nos casos e na forma de os apresentar, o programa pode rapidamente tornar-se um desfile de dramas previsíveis, em vez de uma análise aprofundada das relações humanas.
Outro ponto a considerar é o equilíbrio entre a seriedade do tema e o entretenimento televisivo. O divórcio é um assunto delicado, e a linha entre um programa de serviço público e um espetáculo de voyeurismo pode ser muito ténue. Cabe à produção e à juíza Antonieta Almeida Rocha manterem o tom certo para que o programa não se transforme num reality show disfarçado de aconselhamento jurídico.
Aposta a acompanhar
A estreia de Quero o Divórcio! mostrou que há espaço para este tipo de formato na televisão portuguesa. A audiência respondeu de forma positiva, e os temas escolhidos provaram que há potencial para explorar assuntos pertinentes e controversos. No entanto, a TVI precisa de garantir que o programa não se torne previsível e que continue a oferecer histórias envolventes, relevantes e, acima de tudo, que promovam a reflexão sobre os desafios do casamento e do divórcio.
Se o programa conseguir manter a autenticidade e a diversidade de temas, poderá tornar-se uma aposta forte nas tardes de sábado. Caso contrário, corre o risco de se tornar apenas mais um programa de confrontos familiares, perdendo a credibilidade e o interesse do público.