Rir com, não de - César Mourão regressa com 'Terra Nossa'

César Mourão continua a dar cartas, e a dar voltas, literalmente. Quando achamos que o vamos ver a abrandar, aí está ele de novo com uma mochila às costas, um microfone na mão e aquele humor certeiro que vai da gargalhada ao nó na garganta num piscar de olhos.

Agora é tempo de 'Terra Nossa' regressar, e com ele, as viagens por esse país fora (e não só). Évora, Lousã, Póvoa de Varzim, os Açores... até Andorra entrou na rota. Ele parte, nós vamos atrás, e há sempre aquela sensação de reencontro, com os lugares, com as pessoas, com o lado bonito da televisão que ainda sabe ouvir.

Mas não se pense que isto é só paisagens bonitas e piadas bem colocadas. 'Terra Nossa' tem um trunfo raro: mostra-nos as figuras públicas a partir do lugar que as viu crescer. Há algo de terapêutico nesse regresso às raízes, algo de verdadeiro. E é isso que prende, mesmo que, lá no fundo, saibamos que o formato já leva muitos quilómetros em cima.

É inevitável a pergunta: será que a televisão está a exagerar na repetição de nomes e rostos? Mourão está em todo o lado. 'Tudo em Família', 'Terra Nossa', 'Commedia à la Carte', e provavelmente mais um ou dois projetos a fermentar nos bastidores. O talento está lá, mas a rotação é intensa. Há espaço para os outros? Há olhos postos em novas vozes, novas formas de fazer rir e pensar?

Enquanto não se ouvem outras gargalhadas, ficamos com as dele. Porque, verdade seja dita, poucos conseguem transformar um programa de fim de semana num abraço ao país inteiro. Mourão continua a ser mestre nisso: rir com, e não de.

E talvez seja essa a maior herança que deixa à televisão, mesmo quando parece não parar um segundo.