As novelas turcas tornaram-se um fenómeno mundial. Em Portugal, o público da SIC já está habituado a mergulhar em histórias carregadas de emoção, injustiça e amores impossíveis. A mais recente aposta, Vitória, assume-se como uma adaptação da série turca Gülperi — e é aqui que começa o verdadeiro desafio.

A força de uma mãe: duas culturas, uma mesma luta

Em Gülperi, acompanhamos a trajetória de uma mulher que, após perder o marido e enfrentar a violência da família dele, acaba injustamente presa. Quando regressa, descobre que os filhos foram afastados e manipulados pelos sogros. A partir daí, a sua batalha centra-se em recuperar a guarda, mas sobretudo, em reconquistar o amor e a confiança daqueles que mais ama.

Em Vitória, a premissa é praticamente a mesma. A protagonista, Vitória Silva, vê a sua vida desmoronar-se depois da morte do marido. Acusada de um crime cometido em legítima defesa, é condenada e, durante o tempo que passa atrás das grades, perde os filhos para a poderosa família Mendonça. A narrativa desenrola-se com a mesma intensidade: uma mãe contra o mundo, determinada a lutar até ao fim pelos seus.

Semelhanças que não enganam

A espinha dorsal da história mantém-se:

  • Uma viúva injustiçada.
  • A perda da guarda dos filhos.
  • A influência nefasta dos sogros.
  • O reencontro com um antigo amor, agora advogado, que se torna aliado.

Tudo isto dá a Vitória a mesma base de emoção crua e de dilema moral que fez de Gülperi um sucesso na Turquia.

Mas Portugal não é a Turquia

Aqui entra a questão cultural. Enquanto Gülperi contou apenas com 30 episódios, Vitória terá, previsivelmente, mais de 100. Isto significa que o enredo terá de se estender em subtramas, novos vilões e reviravoltas adicionais. É inevitável que o ritmo da adaptação seja diferente, mais próximo daquilo a que o público português está habituado: um folhetim prolongado, feito para acompanhar no dia a dia.

E depois há os códigos sociais. O peso da justiça, o sistema prisional, até a forma como os filhos encaram a mãe ausente — tudo precisa de ajustes para soar verosímil no nosso contexto. Se em Gülperi a luta de uma mulher contra estruturas patriarcais é central, em Vitória o desafio será traduzir esse conflito para uma realidade portuguesa sem perder autenticidade.

Ao adaptar uma história que já nasceu forte, a SIC joga pelo seguro e arrisca ao mesmo tempo. Seguro, porque a trama tem todos os ingredientes para prender o público: drama, injustiça, amor e superação. Arriscado, porque os espectadores mais atentos podem acusar a novela de ser apenas uma cópia.

No entanto, a ousadia está em transformar uma minissérie intensa de 30 episódios numa novela de longa duração, com capacidade de surpreender diariamente. Se conseguir manter o equilíbrio entre fidelidade ao original e inovação cultural, Vitória pode vir a ser um dos grandes trunfos do canal.

Conclusão

No fundo, Vitória e Gülperi contam a mesma história: a de uma mãe que, mesmo humilhada e derrubada, nunca deixa de lutar pelos filhos. A SIC tem agora a missão de provar que essa luta ressoa em qualquer lugar do mundo — seja em Istambul ou em Lisboa.

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